Peço que protejam alguns minutos para lerem com calma esta carta pois trata do tema da reestruturação que estamos a fazer no dia a dia Raiz e da qual vocês têm sido peças fundamentais. Como vem sendo hábito na Raiz, Planear-Fazer-Rever, também eu com toda a equipa temos o hábito de nos debruçarmos sobre cada uma destas partes do processo. Estamos agora na fase de Rever. Refletir sobre estes dois anos Covid, o que avançou, o que precisa avançar, áreas mais fortes e áreas a melhorar. Iniciámos em novembro esta reflexão, fizemos em janeiro e fevereiro momentos de reflexão com toda a equipa Raiz e temos contado com a colaboração de muitos pais que de um modo muito construtivo, pessoal e individualizado têm dialogado e refletido connosco tal como é o nosso estilo. Sentimos-nos muito apoiados nesta fase e também por isso com energia para olharmos mais longe e avançarmos. A entrada da Fátima Marques, gestora e financeira do projeto Raiz, trouxe-nos um novo olhar sobre a organização, a possibilidade de reestruturarmos de uma forma mais profunda algumas áreas e de darmos maior consistência e eficácia ao trabalho realizado. O juntar de esforços da parte pedagógica e da parte administrativa está a dar-nos uma nova perspetiva. Neste momento terminámos já a baseline em algumas áreas e iniciámos a intervenção, noutras áreas estamos a realizar a baseline e noutras estamos a estudar ainda parcerias para avançarmos com consistência. Nada disto leva a alterações na estrutura da Raiz, o modelo pedagógico HighScope continua no centro de toda a nossa intervenção. Estes dois anos fizeram-nos adiar projetos e decisões que consideramos estarmos agora preparados para o fazer. Deixo-vos aqui áreas onde estamos a intervir e em breve conto dar-vos informação daquelas onde estamos numa fase mais inicial. Iniciámos uma reestruturação na secretaria de modo a reorganizar funções e tornar o processo mais eficaz. Aumentámos a equipa, criámos mais detalhes na resposta e estamos a cuidar de novas áreas e rever processos burocráticos. Na alimentação, estamos a fazer uma baseline para definirmos novos passos, sabemos que há pratos mais populares do que outros, sabemos também que o modo de confecção é dificultado pelas limitações criadas pelas indicações nutricionais sobre temperos e molhos, como o sal, as natas, a maionese, os caldos, etc. Estamos a avançar em vários sentidos: na próxima semana as crianças e os adultos que almoçam na escola irão preencher diariamente um questionário online de satisfação de modo a termos uma noção dos pratos mais populares, pratos a alterar e sugestões. A equipa da cozinha vai realizar uma formação em métodos de confecção que visa tornar mais gostosa e com sabor diversificado a comida realizada com as limitações nutricionais existentes. As crianças irão ter também um workshop sobre nutrição de modo a sensibiliza-las para determinados alimentos, confecções e cuidados a terem. O Bairro é a Nossa Escola e o mundo também, como partilhava há pouco numa carta, é importante as crianças viverem o bairro, viverem a cidade e viverem o mundo. Com a pandemia ficámos temporariamente impedidos de o fazer e depois limitados nesta ação, esta é uma área em que alguns dos professores já voltaram a avançar e estão todos a serem desafiados a aumentar a sua resposta e a diversificar os espaços e os ambientes usados fora de portas. O digital teve um enorme impacto durante a pandemia e trouxe-nos a necessidade de dar mais passos nesta área. Sentimos que a equipa precisava de formação e tal como partilhado convosco em novembro, começámos uma parceria com um programa de formação aos professores que está a ter grandes resultados. Os professores estão a sentir-se seguros em novas ferramentas digitais, estão a experimentá-las em contexto e a discutir as experiências em equipa. A introdução nas estações está também a acontecer gradualmente e temos novos passos planeados já para o próximo ano sobre os quais vos falaremos em breve. A abertura ao mundo e aos outros – elemento central no nosso projeto – voltou a ganhar grande dimensão, tal como aconteceu na fase dos incêndios de 2017 e 2018. Envolver a comunidade na resposta a situações de crise tem como objetivo dar um contributo necessário à sociedade e preparar os nossos alunos para serem elementos ativos numa atuação construtiva e promotora de paz. Com o surgir da Invasão da Ucrania preparámos e estamos a executar um projeto de apoio aos refugiados no qual estão já envolvidas mais de 20 famílias da Raiz. É muito interessante ver como a simbiose entre famílias e escola é tão grande e facilmente estabelecemos redes de ação. Relação próxima com os pais – através de ferramentas digitais temos conseguido estreitar esta relação diária com os pais, partilhando de um modo mais concreto e objetivo o que é a riqueza do dia a dia das crianças na escola. Estabelecemos canais de contacto direto com os professores e com a direção o que tem facilitado imenso a comunicação. Nesta área temos ainda mais alguns passos que queremos dar ainda este ano, continuando a estreitar esta relação tão poderosa e construtiva que se estabeleceu. Há outras áreas que estão a ser já projetadas mas hoje deixo-vos estas seis partilhas. Depois de uma tempestade vem a bonança, pelo menos era o que ouvíamos dizer, parece que desta vez não foi assim e depois da tempestade Covid chegou a tempestade guerra. Ainda assim estamos com força e determinados a intervir em áreas que nos parecem fundamentais num mundo em mudança. Como todos, temos limitações, temos imperfeições e temos áreas onde podemos e vamos caminhando e outras onde não o vamos fazendo, porque nem todas dependem da nossa vontade. Tal como vos disse em dezembro, é muito importante que os pais que estão dentro da escola e nela se mantêm para o ano se sintam satisfeitos e motivados. Sabemos que há pais que gostavam que a escola fosse isto ou aquilo e julgo que as linhas que vos vamos deixando vos devem ajudar a aferir expectativas. A gestão de falsas expectativas ou expectativas impossíveis gera muita insatisfação e desgaste e não traz beneficio a ninguém. Digo-vos isto com toda a clareza pois sei os tempos complexos que a guerra vai trazer e precisamos ter o barco tranquilo para viver juntos esta época. O que há de expectativas para aferir deve ser realizado agora até para saberem com o que contam. No que respeita ao espaço da Raiz, num outro dia um pai perguntava-me: “Margarida, é para o ano que temos uma nova escola no Parque das Nações, é que vivo mesmo lá perto?” Ao que respondi: “Não. Neste momento não temos nenhum projeto de expansão prestes a acontecer.” É normal que vão ouvindo falar do tema pois o tema está em cima da mesa, tanto para criar um outro espaço na zona como para expandir para outras zonas, há investidores interessados e projetos a avançar mas com a fase que o mundo está a passar tudo é mais lento e só vos será anunciado quando tivermos algo muito concreto. Isto porque gerir expectativas é algo muito complexo e queremos que os pais saibam exatamente com o que contam. Queridos pais, tem sido muito bom fazer esta caminhada convosco e foi muito bom ver como estivemos em sintonia durante esta tempestade. Contamos assim com cada um de vocês que continua a abraçar este projeto e para juntos nos prepararmos para esta nova tempestade. Aos que decidirem ficar pelo caminho fica também um enorme abraço e continuarão no nosso coração. Estamos juntos e cada vez mais regenerados e preparados para novos desafios. Margarida Silveira Rodrigues A Diretora |